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Em Maceió, cola vira nóia e muda perfil do morador de rua

Por Imprensa (quinta-feira, 24/11/2011)
Atualizado em 24 de novembro de 2011

Morador de rua, em frente ao Palácio do Governo: 20 foram assassinados neste ano- maioria vítima do avanço do crack, segundo a polícia

Odilon Rios reporteralagoas.com.br

Droga mais comum e barata, o crack mudou o perfil dos moradores de rua em Maceió. Da “cola de sapateiro”, cheirada para matar a fome, o interesse agora é pela “nóia”- o nome popular do crack. Por causa da droga, só este ano, 20 moradores de rua foram assassinados- segundo a Polícia Civil, a causa é a disputa por pontos para venda e consumo das pedras.

No Centro de Maceió, regiões próximas a prédios públicos não estão livres dos consumidores do crack. Alguns ficam em frente ao Palácio Floriano Peixoto- a sede do Governo Estadual. Na praia da Avenida, um posto abandonado da Polícia Militar virou local de concentração para os viciados pela droga.

A poucos metros do Tribunal Regional do Trabalho, um monumento abriga usuários e traficantes. Até um túmulo- erguido em homenagem a um dos fundadores da capital- na praça da Faculdade, é ponto da “nóia”, bem como o viaduto João Lyra, no bairro da Jatiúca- área nobre da capital.

“Não se vê mais o cheirador de cola nas ruas de Maceió. Do tubo de cola pendurado na boca vemos as latas de refrigerante cortadas para estourar as pedras de crack, em brasa”, disse o promotor de Direitos Humanos, do Ministério Público Estadual, Flávio Gomes da Costa.

“Uma pedra custa R$ 5,00 e é facil de se ter acesso. Não temos uma cracolândia- como se vê em São Paulo. Aqui, a droga está espalhada e preocupa. E muito. O consumo cresce. E não temos ideia da gravidade deste quadro. Tem gente que fuma nóia em um ponto que fica em frente ao Comando Geral da Polícia Militar. Nenhum lugar escapa”, disse.

aA droga é a causa da maioria dos assassinatos dos moradores de rua, em Maceió. Ano passado foram mais de 30- alguns executados com pauladas, pedradas, garrafadas ou chutes. Este ano, são 20.

Segundo a Polícia Civil, os moradores brigavam entre si, disputando o consumo de crack. Mas, há relatos de que alguns deles foram mortos a mando de comerciantes. A desculpa seriam pequenos furtos, praticados por eles.

Alagoas é líder nacional em quantidade de assassinato de jovens e a polícia diz que, a cada 10 mortes, sete tem relação com o tráfico. Na semana passada, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apresentou um balanço nacional sobre o avanço do crack. Verificou que, das 102 cidades de Alagoas, 65 enfrentam problemas com drogas, mas em 16 municípios o consumo de crack é considerado “alto”.

A maioria das cidades não respondeu à pesquisa da CNM. Uma delas é Maceió.

O que mais chama a atenção é que todas as cidades têm apenas um centro de assistência aos dependentes químicos. Alagoas é um dos 12 estados da federação que não dispõem de verbas específicas, na Lei Orçamentária Anual, nem para o atendimento de usuários de drogas muito menos o desenvolvimento de uma política anti-drogas.

“Não temos uma politica pública para esse combate. Ou isso ainda não é encarado como prioridade”, disse o promotor Flávio Gomes.

Em setembro, a deputada federal Célia Rocha (PTB/AL) levou o assunto a Brasília. Ela recebeu informações de que os trabalhadores que faziam o plantio da cana de açúcar fumavam crack para aumentar a “capacidade de trabalho” e a droga seria fornecida por pessoas que transportariam os trabalhadores até as plantações.

O Ministério do Trabalho, em Alagoas, investiga as denúncias- protocoladas pelo relator da Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas, deputado Givaldo Carimbão (PSB/AL).

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