Por Imprensa (domingo, 5/07/2020)
Atualizado em 5 de julho de 2020
Por Arnaldo Ferreira | Gazeta de Alagoas
No momento que o Senado aprova o marco legal para promover 90% do saneamento básico do País até 2033 e em que o Estado precisa sanear 80% das suas 102 cidades, Alagoas vai na direção contrária e destina US$ 93,2 milhões (R$ 496,3 milhões) para pavimentação e duplicação de estradas, obras previstas para começarem no próximo mês de outubro. O montante, que em grande parte poderia ser revertido em obras de maior alcance social em tempos de pandemia, é três vezes maior que o destinado a obras de saneamento básico (estas programadas apenas para polos de turismo). O investimento milionário em asfalto é fruto de um programa concebido pelo governo do Estado, que definiu as prioridades, e representa grande parte do empréstimo internacional obtido de US$ 136,3 milhões (aproximadamente R$ 724,5 milhões), chamando a atenção de empresários e políticos. Isto acontece quando o coronavírus avança para o interior e contamina quem mora nas áreas mais pobres, carentes de saneamento básico e de outras iniciativas do governo. O estado gastará US$ 125.878.135 (em valores convertidos hoje, mais de R$ 670 milhões) em obras de infraestrutura. Desse valor, mais de US$ 93,2 milhões serão aplicados em obras viárias e de mobilidade (estradas). Já para saneamento e desenvolvimento urbano estão reservados US$ 32.603.135 (R$ 174 milhões).
Entidades alertam que recursos do novo empréstimo tomado pelo governo do Estado devem ser usados para reaquecer a economia
Os presidentes do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas(Sindpol), Ricardo Nazário, e do Sindicato dos Fiscais de Renda (Sindifisco), Irineu Torres, avaliam que os recursos emprestados deveriam ser aplicados prioritariamente em obras de saneamento para garantir empregos, o reaquecimento da economia e promover o desenvolvimento. Irineu Torres disse que o Estado tem sérios problemas no fornecimento de água tratada e coleta de esgoto na maioria dos municípios. “Se o dinheiro for aplicado em estradas que promovam o crescimento da economia, ajudem no desenvolvimento agrícola, do turismo e na escoação da produção, aí o impacto poderá ser menor. Do contrário, teremos problemas mais adiante e agravamento do saneamento, já que o investimento previsto é quase quatro vezes menor”, alerta. “O governo precisa ter olhar para o povo que mais precisa de investimentos públicos nesse momento de combate ao coronavírus”, avaliou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Ricardo Nazário, ao sugerir que “os cerca de R$ 724,5 milhões deveriam ser direcionados a setores essenciais como saneamento básico, que melhora as condições de vida dos mais pobres”.
Como exemplo, o sindicalista destacou a situação dos que moram às margens da lagoa Mundaú. A região é de extrema pobreza e precisa de moradias dignas, disse Nazário preocupado que as obras de asfalto sejam semelhantes às das novas delegacias dos Centros Integrados de Segurança Pública (Cisp). “Com menos de dois anos as delegacias apresentam falhas estruturais sérias e representam falta de atenção na aplicação do dinheiro público”.