Por Imprensa (sexta-feira, 8/06/2012)
Atualizado em 8 de junho de 2012
Por Alexandre Manoel
Até o fim da década de 90, Alagoas e sua capital eram considerados lugares pacatos, onde a população vivia tranquila e o turista poderia vir descansar seguro e longe da violência urbana que assolava as grandes metrópoles brasileiras. Em 1998, morei em Recife, lá, nessa época, lia nos jornais e ouvia falar de estupros e assassinatos em ônibus urbano, algo que nunca tinha lido nem ouvido falar em Maceió. Voltava para Maceió e contava aquilo para os amigos, o que soava muito estranho para aqueles que não frequentavam a capital pernambucana.
Em 1999, fui morar no Rio de Janeiro, lá, mesmo morando em Botafogo, um bairro relativamente nobre da capital do Estado do Rio de Janeiro, ouvia, ao menos duas vezes por semana, por volta das 17h, rajadas de metralhadoras. Segundo os cariocas, tratava-se do anúncio da chegada de drogas no morro Céu Azul, que fica em Botafogo. Tal anúncio se repetia em outros morros da cidade. Na época, a cidade Rio de Janeiro era um caos em termos de violência urbana. Não conhecia absolutamente ninguém que não tivesse sido assaltado ou não conhecesse algum caso de homicídio relacionado com alguém muito próximo. Mais uma vez, quando chegava a Maceió, contava aquilo para os amigos e aquilo tudo soava muito estranho para aqueles que não frequentavam a capital fluminense.
Por sua vez, enquanto estava em outros lugares, sempre anunciava Maceió como a capital da tranquilidade. Dizia: vá e leve sua câmera, sua máquina, enfim, seus pertences e ande despreocupado, pois nunca ouvi falar de problemas de segurança urbana no litoral maceioense. Contudo, comecei a perceber que havia algum problema com a segurança pública em Maceió quando dois colegas que visitavam Alagoas, em momentos distintos, no mesmo ano de 2005, foram assaltados na praia do Francês e na Pajuçara.
Minha primeira reação foi achar que aquilo tinha sido um evento aleatório, mas, depois, ao observar os dados, percebi que havia, já naquele momento, uma crescente onda de violência urbana tanto em Alagoas quanto em sua capital. De fato, ao observarmos a tabela abaixo, nota-se que, entre 1999 e 2005, Alagoas saltou de 552 homicídios (variável que serve para denotar o nível de violência em uma localidade) para 1211. Maceió, por sua vez, nesse mesmo período, saiu de 243 para 620 homicídios. Em outras palavras, entre o final da década de 90 e meados da década anterior, Alagoas e sua capital mais que dobraram o número de homicídios, respectivamente.
Número de Homicídios em Alagoas, Maceió, Pernambuco e Estado do Rio de Janeiro : 1990 a 2010
Ano |
Alagoas |
Maceió |
Pernambuco |
Rio de Janeiro |
1990 |
720 |
319 |
2746 |
7095 |
1991 |
675 |
284 |
2754 |
5039 |
1992 |
592 |
273 |
2533 |
4516 |
1993 |
619 |
287 |
2744 |
5362 |
1994 |
616 |
286 |
2566 |
6414 |
Média (1990 a 1994) |
644 |
290 |
2669 |
5685 |
1995 |
731 |
331 |
2699 |
8183 |
1996 |
740 |
357 |
3015 |
8049 |
1997 |
642 |
287 |
3710 |
7966 |
1998 |
585 |
255 |
4428 |
7570 |
1999 |
552 |
243 |
4200 |
7249 |
Média (1995 a 1999) |
650 |
295 |
3610 |
7803 |
2000 |
724 |
360 |
4276 |
7337 |
2001 |
836 |
485 |
4697 |
7352 |
2002 |
989 |
511 |
4431 |
8321 |
2003 |
1041 |
520 |
4512 |
7840 |
2004 |
1034 |
559 |
4173 |
7391 |
2005 |
1211 |
620 |
4307 |
7098 |
Média (2000 a 2005) |
973 |
509 |
4399 |
7557 |
2006 |
1617 |
904 |
4478 |
7122 |
2007 |
1839 |
917 |
4560 |
6313 |
2008 |
1887 |
990 |
4431 |
5395 |
2009 |
1872 |
876 |
3954 |
5074 |
2010 |
2086 |
1027 |
3445 |
5267 |
Média (2006 a 2010) |
1860 |
943 |
4174 |
5834 |
Fonte: Ipeadata e Datasus. Elaboração própria.
Desde então, os números de homicídios continuam aumentando quase que ininterruptamente tanto em Alagoas quanto em Maceió. Em 2010, segundo o Datasus, houve 2086 homicídios, em Alagoas, e 1027, em Maceió. E o pior é que vários dos fenômenos que observei naquela época tanto no Rio de Janeiro quanto em Recife já há algum tempo começo a observar também em Maceió, infelizmente. A sensação de insegurança também começa a se elevar em Maceió e já começa a ser recorrente ouvirmos falar de assaltos, sequestros relâmpagos e homicídios, mesmo nos bairros mais nobres, tradicionalmente mais seguros. Onde vamos parar?
Por outro lado, conforme a tabela, quando observamos os dados de Pernambuco e do Estado Rio de Janeiro, mais especificamente contrapondo a média de homicídios de 2000 a 2005 com a de 2006 a 2010, observamos que há uma tendência declinante no número de homicídios tanto em Pernambuco quanto no Rio de Janeiro. Será que os bandidos e traficantes pernambucanos e fluminenses estão vindo morar em Alagoas? Essa é só uma pergunta dentre muitas que podem ser feitas. Não sou especialista em política de segurança pública, mas não vejo como interrompermos esse aumento de homicídios e voltarmos à tranquilidade que vigia em Alagoas e em Maceió até fins da década de 90, sem entendermos a gênese dessa inflexão no número de homicídios ocorrido a partir do começo dos anos 2000. De fato, sem o diagnóstico correto a respeito do que realmente incentivou essa “explosão de violência”, não há como a política de segurança pública atacar verdadeiramente o problema.
Também não imagino que Alagoas possa interromper esse crescimento vertiginoso no número de homicídios sem uma forte contribuição do governo federal, seja em termos de novos programas seja em termos de mais inteligência nas ações policiais. É preciso também que cobremos dos candidatos à Prefeitura de Maceió comprometimento para que haja maior e mais intensa iluminação pública na capital alagoana e maior presença de guardas municipais nas praças comunitárias, por exemplo. Enfim, mesmo para um leigo, a lista de sugestões de melhorias parece ser não-enumerável. Que venham as melhorias na segurança pública de Maceió e de Alagoas!
CadaMinuto