Por Imprensa (quinta-feira, 14/09/2017)
Atualizado em 14 de setembro de 2017
Seria difícil imaginar que o assunto suicídio, há alguns anos trás, por conta do tabu, pudesse ser abordado de forma tão intensa como aconteceu nos últimos meses no ambiente digital.
Entre abril e maio, o tema registrou o maior número de buscas no Google em comparação com outros períodos nos últimos cinco anos. A forte repercussão é resultado da exibição da série “13 reasons why” (“Os 13 porquês”, em tradução livre) e de notícias sobre o jogo da Baleia Azul.
O episódio colocou em pauta um assunto que não é novo, mas que causa, em média, 32 mortes por dia no Brasil. Como setembro é o mês da conscientização e prevenção ao suicídio, o Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol) intensifica a importância da campanha Setembro Amarelo, que alerta a população sobre a realidade do Brasil, que é oitavo país em número de suicídios.
A cada 40 segundos no mundo e a cada 45 minutos no Brasil ocorre um suicídio no país. Dados divulgados pela BBC indicam que entre 1980 e 2014, a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos aumentou 27,2% no país.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país campeão mundial do transtorno de ansiedade e o quinto em número de pessoas com depressão.
Em Alagoas
O aumento de casos relacionados à tentativa de suicídio em Alagoas é considerado alarmante. Dados do Hospital Geral do Estado (HGE) mostram que, a cada ano, os números aumentam e os maiores casos estão relacionados às mulheres. Dados oficiais, entre 2014 e 2016, mais de 500 pessoas se suicidaram em Alagoas
No ano de 2016 a julho de 2017, o HGE registrou 435 casos de tentativas de suicídio. Sendo 84 casos relacionados a homens em 2016 e 185 tentativas por mulheres no mesmo ano.
Até julho de 2017, foram 61 homens e 105 mulheres que tentaram tirar a vida em Alagoas, dos que foram atendidos, 33 pessoas (2016) e 15 (2017) tentaram tirar a vida novamente e foram encaminhados para o HGE.
Os dados também mostram que a faixa etária vai de 15 a 39 anos. Sobre o meio de agressão, 230 casos por envenenamento foram registrados em 2016 e 125 em 2017.
Suicídio na polícia
Encarregados de salvar e proteger cidadãos, policiais pensam na própria morte como saída para uma rotina marcada pelo alto estresse, pelo risco, pelo afastamento da família e pela convivência com o lado mais sombrio da vida – crime, tráfico, pedofilia e perdas constantes dos companheiros de trabalho.
Além do risco de morrer em combate, policiais também têm uma chance maior de se suicidar. Longas jornadas de trabalho, desvalorização profissional e falta de acompanhamento psicológico contribuem para que isso ocorra.
Uma das pesquisas, realizada pelo Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) nesse ano, entrevistou 224 policiais militares do Rio de Janeiro. Deles, 22, ou seja, 10%, declararam ter tentado suicídio. Pelo menos 50 disseram ter pensado em suicídio em algum momento da vida.
Prevenção
Para os especialistas em saúde mental, as pessoas com comportamento suicida precisam, além de acompanhamento médico, que parentes, amigos e colegas de trabalho tenham compreensão. Quem passa pelo sofrimento decorrente da falta de esperança precisa ser ouvido. E é assim que pode dar um passo essencial para reduzir o nível de desespero das pessoas.
Segundo os especialistas a compreensão pode ser apreendida. Um caminho para incorporá-la é quebrar tabus e desmistificar a ideia de que o comportamento suicida está associado a uma fraqueza ou falta de autoconfiança.
O diretor de Comunicação do Sindpol, e psicólogo Edeilto Gomes, com CRP 15-4521, analisa que na instituição existe um dogma que o policial é um super-herói e salvador da pátria. Omitindo-se na maioria das vezes que se tratar de pessoas comuns destinadas a uma atividade de preservação da vida do cidadão. “O profissional de segurança pública viver um conflito em resolver os problemas da sociedade e não conseguir resolver os seus. Desta forma, são esses profissionais vulneráveis a depressão que acarreta o adoecimento mental e físico, abrindo as portas para o alcoolismo e outras doenças ocasionadas por esse cenário desfavorável”.
O sindicalista destaca que o suicídio para o policial é o resultado de um grande conflito, entre desejar cumprir sua missão e o poder realizar nas condições existentes. “Para evitar ou reduzir essa fatalidade na segurança pública, precisamos cobrar o acompanhamento psicossocial dos gestores para os servidores em seu dia a dia. Além de ações no tocante como atividades de enfrentamento com vítima fatal ou não”.