Por Imprensa (terça-feira, 16/11/2010)
Atualizado em 16 de novembro de 2010
Por Carlos Eduardo Rios do Amaral
O uso imoderado de bebidas alcoólicas, o temível e nefasto crack, a questão dos puxadinhos, as brigas de comadres, aqueles persistentes que não entendem que “a fila anda”, entre outras muitas questões e personagens, podem ser apontados como conhecidos vilões da Lei Maria da Penha.
Hodiernamente, com a emancipação e independência da mulher na sociedade, e, específica e principalmente, no mercado de trabalho — fazendo com que esta tenha força e poder aquisitivo –, velho e sempre presente personagem nos entreveros do coração volta à tona, qual seja, o gigolô.
Para não ser mal interpretado, o famoso dicionário Priberam da internet diz ser o gigolô “o homem que vive à custa de amante, geralmente mais velha”. E, ainda, “o homem que se aproveita ilegitimamente de outra pessoa”. E é do primeiro significado deste vocábulo de que me ocupo aqui, em breves linhas.
Começo, antes, dizendo que o estrago quase que irremediável que esses “artistas” vêm fazendo na vida de muitas mulheres na Lei Maria da Penha vem atingindo índices preocupantes. Levando essas ofendidas ora à bancarrota financeira, ora à falência emocional e psíquica. Esta talvez pior do que aquela meramente econômica, tamanho o envolvimento e desprendimento que foram envidados num passado próximo pela enganada.
Muitas dicas poderiam aqui ser dadas. Mas, talvez, uma seria a mais exata ou pontual. É a de que o amor é apenas um pressentimento íntimo, sempre presente, de que alguém incondicionalmente se preocupa conosco. Não existe um sinalagma nesse nobre sentimento, ama-se por amar, sob diversos e presentes denominadores comuns perceptíveis.
Não se cultiva o amor do outro a partir de algo que refuja ao afeto. A baixa auto-estima da mulher, ou um complexo de inferioridade, momentâneos ou não, não requer espécie de compensação material ou majoração de status do outro, levados a efeito pela parte feminina que se sente sempre minimizada, a todo custo. O sentimento de inferioridade ou de apequenamento é inerente a todo o ser humano, em alguns muitos momentos da vida. Para muitos, em muitíssimos momentos da vida. Afinal, é isto que nos torna seres humanos.
Ninguém aqui veio de Krypton. Ninguém. Por mais que se queira incutir ou passar esta impressão em fotografias de colunas sociais e rodinhas de botequins chiques e da moda. Todos nós somos em dado momento superados pelos nossos medos, pelas angústias ou por um remorso do que fizemos ou do que poderia sempre ser feito a mais por alguém ou por alguma coisa. Não guarde, em hipótese alguma, em sua mente os flashs daquela cena de alegria alheia como momento sublime e sempre constante do outro, como se aquilo fosse algo estático, e que só pode mesmo ser vivenciado pelo outro (e pelas outras). Esse mundo não existe.
O que existe neste mundo são instantes de alegria, que devem ser intensamente saboreados. Estamos todos no mesmo barco. Eu, você e os outros leitores. Ninguém vive num cruzeiro ou embarcação emocional mais resistente. Mas, claro, é sempre bom aprender a saber nadar. Saiba desenvolver uma atividade qualquer, profissional ou de entretenimento, que lhe mantenha viva e útil. Todos somos úteis.
A partir desta perspectiva do reconhecimento universal da falibilidade e da resiliência presentes em todo o ser humano, sem exceção, atinge-se a idéia de que não podemos jamais compensar ao outro aquilo que está presente em todos, e, também, na pessoa amada. A pessoa amada não é e jamais será perfeita. Assim, não se pode estabelecer-se um “amor conta-corrente” aonde a mulher sempre se coloca no cheque especial, no negativo, sempre se achando na obrigação de resgatar aquilo que sempre entende por ela devido, como uma idéia fixa ou irrefletida. Sempre baseada na falsa idéia de que a pessoa desejada é perfeita e imaculada e, que, assim, se não for estabelecida esta compensação material, ela se vai.
Ah! Mas o gigolô sabe bem dessa fragilidade feminina momentânea — tudo na vida é momentâneo — e dessa maneira equivocada de pensar e de entender as coisas. Ele sabe que possui algo ou é alguém que foi inventado.
Príncipes encantados não existem.
Entretanto, ninguém é só sapo.
Somos, em verdade, uma mistura de príncipes e sapos, de muitos personagens de diversas fábulas.
Então, o amor não poderá ser uma medalha de ouro olímpica colocada no peito de alguém. Como se este fosse um inatingível salvador e cultivador, perfeito e infalível, de nosso bem-estar. Em qualquer modalidade no amor ambos os atletas chegam empatados, porque não são competidores. Dividem o mesmo pódio, sem nenhuma superposição. Não existem raias no amor.
A valorização de cada um passa, necessariamente, pela verificação de que não estamos nesse mundo para transformarmos o outro em bengala ou muleta. O fingimento desse encargo quando aceito — condicionalmente, é claro — dura pouco e traz, depois, triste constatação. Não que jamais precisemos da ajuda de alguém. Não que devemos viver resolvendo nossos problemas solitariamente e, assim, da forma mais difícil possível. Todos claudicamos e damos saltos triplos. Todos devem viver se ajudando mutuamente e em troco de nada, pela pura natureza humana instintiva.
O amor não é aquilo que você acha que não tem, e vê apenas no outro. No amor, os olhares são um só, em direção a um só horizonte, o mesmo horizonte. E não adianta dizer-se que o grau de miopia do próprio olho provavelmente deverá ser maior do que o de seu parceiro, já querendo de alguma forma buscar ensaiar uma minimização pessoal, neutralizando a auto-estima. É que o amor também é ciclope.
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Sobre o autor
Carlos Eduardo Rios do Amaral é defensor público do estado do Espírito Santo
Conjur – delegados.com.br