Por Imprensa (segunda-feira, 17/10/2011)
Atualizado em 17 de outubro de 2011
Professor diz que falta empenho dos governos e que o problema é grave
Relatório da ONU mostra que Alagoas é o estado onde mais se mata no País
Brasil superou China e Estados Unidos e é o 24º mais violento do mundo Dados do Sistema Nacional de Mortalidade, do Ministério da Saúde, mostram que em três décadas o número de homicídios em Alagoas cresceu mais de 420%, e de forma linear. Foram essas as informações colhidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgadas nessa quinta-feira, que apontam Alagoas como o estado com o maior número de assassinatos por habitantes no País – 60 a cada 100 mil – e faz do Brasil o terceiro país mais violento da América do Sul e o 24º mais violento do mundo.
O problema é grave, segundo avaliação do professor universitário Bruno Lamenha, mestre em Direito pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele diz que falta empenho e ação conjunta entre os governos. “Como dar conta de um índice de criminalidade tão alto quando o Instituto de Criminalística da Polícia Civil mal funciona? Faltam ações de inteligência. E acho que falta também o governo mostrar a cara. O secretário de Defesa Social, o governador, tem que estar junto à população tratando da questão. E lembrar que essa não é uma questão apenas da esfera estadual. No município, a prefeitura da capital mais violenta da Federação mal fala em segurança pública”, declarou o professor.
De acordo com o professor, a tendência é que os números sejam ainda piores. E mais: engana-se quem pensa que Alagoas, somente nos últimos anos, se transformou numa terra violenta. Na verdade, a Terra dos Marechais sempre figurou entre os estados mais violentos da Federação, desde que os dados de homicídios estão disponíveis, em 1979.
“Na verdade, hoje a questão possui maior visibilidade. Então, acho que a questão da violência criminal é sempre complexa. Apontar causas é sempre muito complicado. No entanto, não é surpresa constatar que as áreas onde os homicídios mais acontecem em Alagoas, são áreas onde os índices de exclusão socioeconômica são baixos. Um exemplo disso aconteceu no conjunto Virgem dos Pobres, no Vergel, onde supostamente os dois adolescentes executados viviam. É lá que está instalada uma Base Comunitária de Segurança para justamente reduzir os índices de criminalidade.
“E isso não quer dizer que são os pobres quem cometem crimes. Quer dizer que tais áreas são áreas em que o Estado não está presente. Quando muito, somente com a polícia. E isso cria espaço para a criminalidade. Inclusive, para o tráfico de drogas”, acrescentou Bruno Lamenha.
Dentre os fatores que contribuem para a explosão da violência, o professor cita a transição demográfica campo-cidade nas últimas décadas. Mas lembra que há uma questão cultural. “Somos uma sociedade historicamente autoritária. E que, historicamente, sempre se valeu da violência para a resolução de conflitos sociais. Um exemplo disso é a violência política que, nos últimos tempos, até voltou a ocorrer com mais frequência. Veja o caso de Anadia, por exemplo”, lembrou.
O Governo do Estado divulgou em sua página oficial que os dados da ONU não causaram surpresa e que a questão da segurança pública é tratata com prioridade pela administração. “Os dados da ONU, que foram divulgados nesta quinta-feira (6) pela imprensa, não nos surpreenderam, pois já tinham sido divulgados no último mês de março. Desde o início deste governo, a segurança pública vem sendo tratada como prioridade pelo governador Teotonio Vilela, que assumiu o comando do estado com índices altíssimos. Entre 2003 e 2007, o índice de homicídios no Estado aumentou 100%, mas com todas as dificuldades essa taxa de crescimento da violência sofreu uma queda de 70%”.
Gazetaweb – Regina Carvalho