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Artigo: Entenda estrutura do Burnout que esgota totalmente o trabalhador

Por Imprensa (sexta-feira, 9/04/2021)
Atualizado em 9 de abril de 2021

* Psicóloga clínica Larissa Rossiter

Nos últimos anos, a Psicologia tem buscado estudar minuciosamente o modo como os sujeitos interagem com seus ambientes de trabalho. A forma como cada sujeito lida com a sua profissão difere, tanto de pessoa para pessoa, como de profissão para profissão, uma vez que cada sujeito é único e que cada contexto organizacional é, também, singular.

A síndrome do esgotamento profissional (Burnout) tem se tornado cada vez mais frequente. Dados epidemiológicos apontam que cerca de 12% a 31% dos trabalhadores adultos do mundo sofrem, já sofreram ou vão sofrer de Burnout, em maior ou menor medida.

A estrutura do Burnout

O Burnout é compreendido como uma síndrome ocupacional que acomete principalmente profissionais da área das ciências humanas e da saúde, que tem um elevado contato social e vínculos de cuidado com outros indivíduos (Maslach & Leiter, 2008).

O Burnout pode ser compreendido como uma resposta do profissional a um longo processo de exposição a condições de trabalho estressantes e crônicas. A doença se constitui por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.

A ‘exaustão emocional’ refere-se à percepção de estar sobrecarregado e com os recursos físicos e psicológicos empobrecidos, incapazes de lidar com a demanda do trabalho.

A ‘despersonalização’ representa a dimensão interpessoal da síndrome. Caracteriza-se por respostas negativas, insensíveis ou individualistas em relação à necessidade dos outros. Trata-se, portanto, de tratar com frieza as pessoas da sua relação de trabalho.

A ‘baixa realização pessoal’ no trabalho representa a dimensão de autoavaliação do burnout, e caracteriza-se por elevados sentimentos de incompetência, baixa realização e baixa produtividade no trabalho (Maslach et al., 2001). Esses sentimentos debilitam as habilidades interpessoais do profissional relacionadas ao seu trabalho, prejudicando o desenvolvimento de suas atividades profissionais.

Acredita-se que o burnout se desenvolve de forma gradativa, conforme demonstra a figura a seguir:

Inicialmente, o trabalhador se sente exausto, sem conseguir dar conta das demandas de trabalho. Quando essa sensação se prolonga.

Por muito tempo, um outro sintoma tende a aparecer, que é a ‘Despersonalização’. Essa atitude de frieza é entendida como uma estratégia mal adaptativa para auxiliar no manejo da demanda. Trata-se de uma tentativa de bloquear a demanda de trabalho. Ou seja, o profissional age com frieza e distanciamento na tentativa de repelir àquela demanda de trabalho que lhe causa sofrimento. A despersonalização tende a aparecer em situações em que o trabalhador já não pode suportar, mas também não pode desistir. Assim, este organiza uma retirada psicológica, como maneira de abandonar o trabalho, apesar de continuar no posto

Por fim, surge os sentimentos de baixa realização no trabalho, uma vez que os profissionais percebem que não estão conseguindo dar o seu melhor. O trabalho perde o sentido e os profissionais começam a se sentir insatisfeitos com a sua vida e escolha profissional.

Algumas diferenças entre Burnout e Estresse

É importante destacar que o Burnout e estresse não são a mesma coisa. O Burnout é um estágio avançado de adoecimento, que é ocasionado pelo estresse de longo prazo.

Ou seja, é a sensação de estresse incessante que leva o sujeito ao Burnout. Vamos entender algumas diferenças:

O estresse é momentâneo e tende a sumir quando o sujeito se distancia da fonte estressora. Em alguns casos, o estresse pode perdurar por mais tempo, caso você esteja envolvido em projetos de longa duração. Mas assim que a tarefa termina, o impacto emocional tem de a diminuir ou até mesmo desaparecer

O Burnout, por sua vez, não é momentâneo. Quando o sujeito está adoecido, ele não é capaz de dar conta das demandas de trabalho, mesmo que sejam as demandas habituais e ‘normais’ do seu dia-a-dia. Descansar também não resolve o problema. Diferentemente do estresse, se afastar da fonte de sofrimento tende a não ser suficiente para desaparecimento do problema. Por fim, a maior diferenciação entre Burnout e estresse são as fases mais agudas, de despersonalização e baixa realização no trabalho, que são presentes apenas em casos de Burnout.

Causas do Burnout

A teoria mais aceita hoje que explica o aparecimento do Burnout é a teoria Demanda-Recursos, desenvolvida por Bakker e Demerouti (2007).

Essa teoria postula que o adoecimento no trabalho se dá através da dinâmica entre as demandas de trabalho e os recursos que o sujeito tem para dar conta desta demanda. O burnout surge quando os indivíduos experimentam demandas de trabalho incessantes e não têm recursos suficientes para tratar e reduzir essas demandas.

Entende-se por demandas os aspectos do trabalho que exigem o manejo de esforço físico, mental e emocional, tais como:

Sobrecarga de trabalho

Desvio de função

Trabalho prescrito x Trabalho real

Conflitos de papeis

Jornada de trabalho (número de horas)

Tarefas sem solução

Instabilidade no trabalho

Já os recursos são aspectos físicos, sociais, organizacionais e psicológicos que auxiliam o indivíduo a alcançar objetivos e a apaziguar os efeitos negativos das demandas do trabalho. De forma didática, podemos separar os recursos em recursos organizacionais (oriundos da própria instituição) e recursos individuais (características do próprio indivíduo).

Alguns recursos organizacionais são:

Autonomia

Gestão participativa

Feedback construtivo

Apoio social de colegas e supervisores

Estrutura física para trabalhar

Salário adequado e justo

Estabilidade no trabalho

Empresas que se preocupam com o bem-estar dos seus funcionários buscam constantemente avaliar como elas podem oferecer mais recursos para os seus funcionários e não sobrecarregá-los com demandas inesgotáveis

No que diz respeito aos recursos individuais, podemos citar:

Capacidade técnica

Características de Personalidade

A capacidade técnica refere-se à habilidade do profissional em executar a sua tarefa. Quando o profissional não tem esse domínio, as demandas normais do trabalho se tornam importantes fontes de estresse. Já as características de personalidade são traços que os indivíduos possuem que podem deixá-los mais ou menos suscetíveis a sofrer com as demandas do trabalho. Pessoas com maiores níveis de neuroticismo (uma das cinco grandes facetas) tendem a apresentar maior chance de desenvolver Burnout.

O neuroticismo, também denominado, vulnerabilidade ao estresse (stress vulnerability) é uma característica de personalidade que reflete a propensão a experiências emocionais negativas. Pessoas com altos níveis dessa característica apresentam menor estabilidade emocional e experienciam mais sentimentos negativos, como a ansiedade, impulsividade, pessimismo, raiva e humor deprimido.

Ambiente de trabalho adoecedores (ou seja, com muitas demandas e pouco recursos) são prejudiciais para qualquer pessoa. Porém, sujeitos com maior nível de neuroticismo tenderão a sofrer mais.

Prevenção do Burnout

A melhor prevenção do Burnout é diminuir os fatores de risco e aumentar os fatores de proteção.

Fator de risco é tudo aquilo que aumenta a chance de o sujeito adoecer.

Fator de proteção, por sua vez, é tudo aquilo que aumenta a chance de o sujeito ficar bem.

Na temática do Burnout, portanto, fatores de risco são as demandas e fatores de proteção são recursos. Assim, as empresas precisam prestar muita atenção na dinâmica entre demandas e recursos, sabendo que já existe hoje muita evidência científica demonstrando que quando as demandas se sobressaem, os profissionais adoecem.

No que diz respeito à prevenção em nível individual, é importante que os sujeitos também conheçam as suas próprias características pessoais para que possam ter maior discernimento sobre quais são seus principais pontos de vulnerabilidade. Com autoconhecimento, o indivíduo é capaz de se preparar melhor para lidar com os desafios e dificuldades que são inevitáveis no mundo do trabalho.

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