Por Imprensa (terça-feira, 27/04/2021)
Atualizado em 27 de abril de 2021
Por Marcos Rodrigues
Sem a segurança do trabalho remoto, policiais têm que estar nas ruas para fazer cumprir o decreto sanitário. Sem a segurança do trabalho remoto, policiais têm que estar nas ruas para fazer cumprir o decreto sanitário
Um levantamento nacional do Monitor da Violência confirmou o que os integrantes das forças de segurança já sabiam: militares e policiais civis estão na mira da Covid-19. Em Alagoas, são oito mortes que, se somadas aos quatro delegados, sobem para 12 as vítimas. Afastados são mais 2.073 policiais. Ainda assim, demoraram para ser reconhecidos como grupos prioritários e mesmo depois foram vetados pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
A doença matou mais que as balas de criminosos em situações de confronto policial. Desta vez, o descaso dos governos, associado à falta de vacina, tem sido a maior violência contra as categorias. Até o momento, 465 agentes de segurança tombaram para esse inimigo invisível. A área não permite trabalho à distância ou remoto. É nas ruas, às vezes enfrentando aglomeração, que os vários pais e mães de família ficam expostos.
Em Alagoas, isso se dá nas várias operações para coibir e fiscalizar o cumprimento dos decretos. Foi o que aconteceu na companhia do próprio secretário estadual de Segurança Pública, Alfredo Gaspar. As abordagens a suspeitos e a quem descumpriu as orientações nunca deixaram de existir. Tanto que a realidade de exposição dos PMs, que tem papel ostensivo, provocou uma reação do Movimento Unificado dos Militares, que denunciou a badalação em torno da vacina. Numa nota de repúdio disseram que nos quarteis era comum a revolta ser traduzida no dito popular: “alegria de pobre dura pouco!”. A principal denúncia foi de que 70% do efetivo operacional ficou de fora do esquema de vacinação. “O Movimento Unificado dos Militares do Estado de Alagoas vem a público repudiar o descaso que o governo do Estado adotou para imunização dos profissionais de Segurança Pública a Covid-19.
Após dezenas de fotos para o marketing governamental na última segunda-feira (05), durante solenidade de início da vacinação, a realidade dos fatos é a falta de planejamento que resultou num cronograma que não atende a necessidade dos policiais e bombeiros militares empregados na atividade externa das Corporações”, descreveu a nota publicada na rede social da Associação dos Cabos e Soldados.
Entre os policiais civis o clima também foi de indignação, porém, contra os órgãos de controle, já que a categoria sempre cumpriu com as determinações previstas nos decretos. Quando não cumpriram e têm cumprido com as obrigações diárias dentro das delegacias tendo contato direto com presos e cidadãos comuns na apuração dos crimes.
Em nota na página do Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol) a entidade também reagiu a posição adotada pelos MPs. “É fácil para os membros dos ministérios públicos estadual e federal recomendarem a suspensão da vacinação para quem está na linha de frente, como a Segurança Pública, quando eles estão trabalhando dentro das suas casas em home office com toda a segurança e não se expõem ao perigo de se contaminar pelo vírus”, afirma o presidente do Sindpol, Ricardo Nazário.
O diretor de comunicação da entidade, Edeilto Gomes, lembrou que a categoria oficiou aos órgãos de controle detalhes da realidade da atividade policial. O contato direto com pessoas que desrespeitam as medidas de segurança, acaba sendo outro risco para a atividade. Ele lembra que é impossível identificar quem pode ou não estar contaminado. “Agente passa a ter contato, mesmo que estejamos de de máscara, na hora de algemar para efetuar a prisão ou deslocamento”, lembrou Edeilto. Conforme advertiu o fato dos policiais estarem em plantões nestas condições constituem um risco para eles e suas respectivas famílias, já que uma vez contaminados levam também o vírus para dentro de suas residências. Por isso, enfatiza a importância de que seja observada essa condição por parte das autoridades.
Os delegados alagoanos, em especial os que têm idade mais avançada, também não escaparam da ferocidade da doença.Dois, das quatro vítimas, morreram este mês. Por conta disso, a Associação dos Delegados de Alagoas (Adepol) também se solidarizou as demais categorias. No momento outros dois delegados estão internados em estado grave. Conforme lembrou o presidente da entidade, delegado Antônio Carlos Lessa, o risco é para todos os profissionais, mas há os que possuem comorbidades e que sempre estiveram na linha de frente, se cuidando como podiam. “O risco de contrairmos o Covid-19 junto com agentes e escrivães realizam diligências e têm um contato direto. Num momento desses podem sim contrair o vírus. Nas últimas semanas quatro delegados faleceram e outros dois estão na UTI. A vacinação é fundamental. Só assim vamos diminuir os riscos. A recomendação dos MPs para não priorizar foi uma forma infeliz. Reafirmamos a necessidade de que se garanta a vacina prioritária para a área de segurança”, observou o delegado. Em seu entendimento a união de todos os segmentos da segurança, juntamente com o governo e até mesmo o posicionamento dos especialistas também pode ajudar a reverter essa posição. Isto porque não há outra saída para garantir a vida se não a vacina. Do contrário a vida dos profissionais continuará em risco, principalmente, com o crescimento da chamada 2ª onda.
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