Por Imprensa (terça-feira, 21/08/2018)
Atualizado em 21 de agosto de 2018
Por Arnaldo Ferreira | Portal Gazetaweb.com
Categoria vem lutando por concurso público para escrivães, agentes e delegados
População sofre com delegacia de portas fechadas há mais de dois anos
A Polícia Civil de Alagoas pede socorro. Desta vez, o pleito não é salarial. A categoria quer concurso público para escrivães, agentes e delegados. O último concurso correu em 2012. O efetivo envelheceu e 50% já deveria estar aposentado. Dos 141 delegados, menos de 100 estão no batente. Para suprir a demanda das 140 delegacias dos 102 municípios é necessário um quadro mínimo com 210 delegados.
O número de agentes e escrivães está em cerca de 1.450 servidores, quando a demanda necessita de 4 mil policiais. O resultado disso é dramático no momento em que facções criminosas do Rio de Janeiro e São Paulo disputam palmo a palmo o território alagoano. As estatísticas oficiais atestam que Alagoas registrou em 2017 a média de cinco assassinatos por dia. Quer dizer que 1.921 pessoas foram mortas, o que representou um aumento de 1,8% em relação ao ano anterior.
Neste período o número de homicídios também cresceu 24%. O esforço de Alagoas para reduzir a violência apareceu no 12º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O estado, pela segunda vez consecutiva, no ranking da violência ocupa o quinto lugar entre os 27 estados. “Aqui em Alagoas, desde o início da gestão, conseguimos tirar o Estado como o mais violento do Brasil. Isto foi conseguido com um trabalho forte e técnico realizado pela Segurança Pública”, comentou o secretário de Segurança Pública, coronel Lima Júnior, ao receber a Gazeta na sede da SSP na última quinta-feira.
Do ponto de vista estrutural existem vários problemas que dificultam o combate às ações criminosas. Segundo avaliação dos Sindicatos dos Delegados, dos Policiais Civis e a Associação dos Delegados, mais de 30 delegacias do interior estão fechadas por falta de efetivo. Na capital, as delegacias de bairros também só funcionam durante o dia e fecham nos finais de semana.
O efetivo da PM também está reduzido, tem menos de 8 mil homens quando precisaria de 15 mil. O comando da PM está formando mais mil policiais aprovados no último concurso público e fará nova seleção para admitir mais 500 policiais. A Secretaria do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag) estuda como vai atender o pleito da direção geral da Polícia Civil para realizar concurso público, já que o Estado está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que impede o Estado de gastar mais de 49% da receita com folha de pagamento de servidores.
Delegacias
Enquanto a Secretaria de Segurança Pública trabalha forte para conter a violência com efetivos reduzidos, com profissionais com mais de 15 anos sem férias, desmotivados, doentes e desempenhando múltiplas funções, a população das cidades pequenas como Coqueiro Seco, na região metropolitana, distante 24 quilômetros de Maceió, evita sair de casa a noite por causa dos ladrões, dos traficantes e da falta de segurança ostensiva.
O funcionário público Gustavo da Silva explica que quem precisa prestar queixa da insegurança na comunidade enfrenta também decepção: a única delegacia da Polícia Civil que também mantinha uma guarnição da PM a disposição dos 6 mil habitantes (5.918 moradores, segundo o IBGE) está fechada há mais de dois anos. “Quem for vítima de algum crime em Coqueiro Seco tem que ir prestar queixa em Maceió ou na cidade vizinha de Santa Luzia do Norte e contar com a sorte de encontrar a delegada lá”, lamentou o servidor.
Nos finais de semana explode a violência naquela cidade da região metropolitana. “Ninguém pode mais ficar na rua à noite porque pode ser roubado ou ter problema com o tráfico de drogas que acaba com a paz de todo mundo”, disse.
A informação do servidor foi confirmada pelo aposentado Petrucio de Almeida. “Não tem policiamento na cidade. O delegado, os policiais civis e militares que ficavam aqui foram retirados. Nós estamos entregues a própria sorte”, criticou.
Moradores relatam que evitam sair de casa durante a noite
O pescador Adail José de Oliveira explicou que o policiamento de Coqueiro Seco se limita a rondas esporádicas feitas por uma viatura da Polícia Militar com três PMs. “A ronda passa no final da manhã ou à tarde. Depois, acabou o policiamento. Para solicitar qualquer serviço da polícia a gente vai para Santa Luzia ou Maceió. Na cidade não tem delegado, nem polícia judiciária para investigar crimes e nem como fazer boletim de ocorrência. A delegacia está fechada, olha aí”, mostrou o pescador na porta da delegacia.
Caos
O problema não é só lá. Reclamações deste tipo ocorrem em mais de 30 municípios pequenos. As delegacias estão fechadas e as que abrem as portas funcionam precariamente. Sem viaturas, com efetivo de dois a três policiais. Os servidores geralmente são desestimulados. Segundo levantamentos feitos pelos Sindicatos dos Delegados, dos Policiais Civis e da Associação dos Delegados, das 141 delegacias da Polícia Civil do Estado de Alagoas cerca de 40 estão fechadas por falta de profissionais. Entre as 101 que ficam abertas, mais de 70% funcionam com conta do baixo efetivo e praticamente sem estrutura operacional.
Os serviços operacionais na maioria das delegacias dos pequenos municípios limitam fazer o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e Flagrantes. Investigações de crimes homicídios, latrocínios e de outras naturezas gravíssimas só com apoio de equipes da capital. Não existem delegados suficientes para atender as demandas do interior, disse um delegado da região do Agreste que pediu para não ter o nome publicado.
Não é preciso ir muito longe para constatar o caos na operacionalidade da Polícia Civil. Alguns dos exemplos ocorrem na região metropolitana, nos municípios de Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A delegada Fabiana Leão foi designada para atender a população que passa de 30 mil habitantes, nas três cidades. Nem sempre a delegada pode estar na região. Na última quarta-feira, por exemplo, ela estava resolvendo problemas burocráticos na Corregedoria da Polícia Civil, em Maceió, e os policiais civis confirmaram a ausência dela. “A delegada é ativa, faz o que pode. Mas falta estrutura para ela trabalhar”, disse um policial lotado na delegacia de Satuba.
A delegacia fica numa casa velha alugada no loteamento Fridolim, na parte alta do município. O imóvel tem péssimas acomodações, mobília velha, parte do reboco do teto da sala do escrivão caiu, rede elétrica improvisada e a viatura vive sempre com problemas mecânicos.
Imóvel possui péssimas acomodações e condições de trabalho
O imóvel está sendo reformado para ser devolvido ao proprietário e a delegacia vai se mudar para outro prédio. O efetivo é de seis policiais para garantir polícia judiciária aos 15 mil habitantes (14.603 moradores, segundo o IBGE). A maioria dos profissionais tem sérios problemas de estresse, alguns consomem remédios controlados por conta da carga excessiva de trabalho, o chefe da delegacia tem problemas de depressão porque não consegue dar celeridade a mais de 30 inquéritos. A delegacia não tem agente suficiente para fazer investigações.
A delegacia de Santa Luzia do Norte, distante 26 quilômetros de Maceió, funciona como sede operacional da delegada Fabiana Leão, para atender as cidades de Coqueiro Seco e Satuba. A equipe é formada com oito profissionais: a delegada, o chefe da delegacia, escrivão e cinco agentes. 50% do efetivo já passou da hora de se aposentar. A maioria dos policiais tem, em média, oito férias vencidas. Porém, um caso chama a atenção: a do agente com 14 anos sem conseguir tirar férias. Por conta do efetivo reduzido, os profissionais adiam o gozo de férias.
A delegacia não tem viatura oficial. O único carro disponível não está plotado, é velho e passa muito tempo parado na oficina. “A delegacia fica aberta, mas a gente não tem condições de fazer nada”, admitiram os dois policiais que estavam no plantão do atendimento. As duas delegacias que funcionam, o expediente é das 8h às 17 horas. Se os policiais precisarem sair para uma operação de extrema urgência, as delegacias ficam fechadas.
Adepol cobra concurso público
A Polícia Civil envelheceu. Precisa urgentemente renovar os quadros de agentes, escrivães e de delegados com concurso público. A avaliação é do presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Estado de Alagoas (Adepol), Robervaldo Davino. A Polícia Civil precisa de 210 delegados ativos e hoje tem apenas 141. “Dos que estão trabalhando tem 45 delegados aptos para se aposentar a qualquer momento. Eles não se aposentaram ainda porque não quiseram. Eu sou um deles”, admitiu o líder dos delegados da Polícia Civil do Estado.
A situação de Robervaldo Davino é semelhante da maioria dos colegas. Ele confessou ter 18 férias vencidas e revelou casos de colegas com mais de 25 férias vencidas. “A Adepol já encaminhou vários pleitos ao governo do Estado, a Secretaria de Segurança Pública e a Direção Geral da Polícia; solicitou a realização de concurso público para agentes e delegados. Mas até agora, nada”.
Explicou que a situação chegou num ponto crítico. Confirmou que as delegacias das pequenas cidades praticamente só atuam em caso de emergência. Hoje, segundo Davino, tem delegados respondendo por mais de três delegacias. O próprio é responsável pela delegacia do 6º DP em Maceió, responde também pelas delegacias dos municípios de Paripueira (distante 30 quilômetros) e Barra de Santo Antônio (35 quilômetros de Maceió), ambas no Litoral Norte. Apesar de ocupar as três delegacias, não recebe remuneração extra, por acúmulo de função. “O certo é um delegado para cada delegacia”, admitiu.
Delegacias são alvo de vândalos no interior de Alagoas
Com relação a informação de que das 141 delegacias, mais de 30 estariam fechadas por falta de efetivo, preferiu minimizar as reclamações dos colegas. Segundo o presidente da Adepol, existem casos que a delegacia abre e na prática não tem condições de operacionalidade. Como exemplo citou o caso do Sertão, que envolve o delegado da cidade de Mata Grande (distante 273 quilômetros de Maceió), Thomaz Acioli Wanderley Filho, que trabalha com um efetivo reduzido e nos finais de semana dá plantão na delegacia da cidade de Delmiro Gouveia (distante 294 quilômetros da capital) e tem que levar o efetivo com ele. “A população quando procura uma Delegacia de Polícia precisa ser atendida adequadamente, neste sentido é necessário o concurso público para solucionar a situação”.
Desarticulação
O presidente da Associação dos Delegados observa ainda que existe um movimento nacional para acabar com a credibilidade da polícia investigativa. Isto acontece com a redução do efetivo das policias civis em todos os estados.
O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Paulo Cerqueira, também entende a necessidade cobrada pelos colegas. Tanto que encaminhou solicitação de concurso público aos superiores da SSP. “O diretor Paulo Cerqueira tem feito o possível para aumentar os efetivos dos delegados e dos agentes da Polícia Civil. Até agora não temos uma indicação positiva”, lamentou Robervaldo Davino. “A Polícia Civil precisa ter condições de fazer trabalhos investigativos e hoje quase 50% do nosso efetivo está em fim de carreira, precisa ser renovado”.
Falta de efetivo favorece a impunidade
Sem revelar números precisos, a alta cúpula da Adepol e do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol) afirma que a maioria das delegacias estão com inquéritos parados por falta de efetivos e por causa da burocracia de outros órgãos estaduais auxiliares. Os inquéritos precisam de perícias e a Perícia Oficial do Estado também carece de profissionais. Por isso, alguns laudos demoram mais de um ano, tem laudos cadavéricos que demoram até seis meses. Situações que dificultam o andamento dos inquéritos, favorece a impunidade, estressam os delegados, os agentes, dificultam a ação do Ministério Público e da Justiça, destacaram os presidentes da Adepol, Robervaldo Davino, e o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas, Flávio Saraiva.
Ambos estão preocupados com a suposta desarticulação da Polícia Civil e temem o fim da Polícia investigativa e judiciária. “A demanda da sociedade é geométrica e não existe reposição de pessoal. A conta não bate. A polícia faz o que pode”. Saraiva explicou também que a discussão neste momento não é financeira e nem salarial. “Estamos preocupados com a sobrevivência deste instrumento da sociedade que atende as demandas também do Poder Judiciário. Existe uma intenção nacional de acabar com a Polícia Civil. O problema não é só de Alagoas”, frisou.
Facções aproveitam crise da polícia para ocupar territórios
A falta de infraestrutura e de policiais para atender as demandas de combate à expansão do tráfico de drogas, de armas e outros ilícitos nos pequenos municípios favorece a expansão das fações criminosas em nosso território. O problema assusta a população, preocupa as autoridades e compromete um dos objetivos da gestão estadual, que é a redução da violência a níveis toleráveis. No município do Pilar, distante 40 quilômetros, a maioria dos 35.552 habitantes (IBGE) vive no meio da disputa de território entre duas organizações criminosas violentas: uma de São Paulo (Primeiro Comando da Capital – PCC) e outra do Rio de Janeiro (Comando Vermelho – CV). Os homicídios se multiplicam. O delegado da cidade, José Carlos, tem feito um forte enfrentamento e consegue manter a situação em níveis suportáveis.
A situação é tão séria naquela cidade da região metropolitana que José Carlos teve que deixar a presidência do Sindicato dos Policiais Civis para ficar disponível ao enfrentamento das organizações criminosas. A vaga dele foi ocupada pelo vice Flávio Saraiva. O delegado do Pilar reconheceu que os colegas também estão sobrecarregados de trabalho, acumulam funções, ainda têm que cumprir escalas de plantões nas centrais de flagrantes. No interior, as condições de trabalho são precárias. “A carência de pessoal tem sido um grande empecilho para o trabalho policial de qualidade”.
Do efetivo de 141 delegados, José Carlos acredita que 100 estão no trabalho ativo, quando precisaria ter 210 delegados. “Emergencialmente, a gente precisa neste momento de, pelo menos, mais 60 delegados. A lei determina que para atender a demanda dos alagoanos (3,3 milhões de habitantes, segundo o IBGE) seria necessário um efetivo mínimo de 200 delegados e aumentar também o efetivo dos policiais civis”. O delegado destacou que a Delegacia Geral da Polícia Civil reconhece o problema, solicitou concurso público para aumentar o efetivo e tudo que se sabe é que há um processo tramitando na Secretaria de Estado do Planejamento.
O município do Pilar é considerado como um dos mais violentos da região metropolitana por conta da guerra entre os grupos de traficantes. Depois de vários pleitos junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP), o efetivo aumentou. Porém, só é suficiente para atender a demanda do dia a dia e não há condição de atuar em cerca de 400 inquéritos do estoque antigo que estão parados e precisam de investigações e conclusões. Mesmo assim, a delegacia é considerada como uma das mais produtivas do Estado.
Medo invade cidades com problemas de policiamento
Da demanda atual, a equipe de policiais consegue concluir de 15 a 20 inquéritos mensais. A maioria envolve tráfico de drogas e homicídios. “Do estoque antigo, temos 400 inquéritos parados por falta de efetivo. Dos inquéritos antigos, trabalhamos em alguns casos para tentar evitar a prescrição e atendemos as demandas solicitadas pelo Poder Judiciário. Isto implica em parar as demandas novas”, disse José Carlos.
Do estoque recente tem cerca de 22 inquéritos de homicídios para serem concluídos. A cidade é cortada pelas BRs 101 e 116, isto contribui para a elevação dos casos de roubos de veículos, mantém o município na rota do tráfico de drogas que abastece a região metropolitana e estados vizinhos, prostituição. Por isto, as facções têm interesse em se estabelecer ali.
A delegacia mais produtiva tem apenas 11 policiais: o delegado, o escrivão e nove agentes. Para atender a demanda seria necessário dobrar o efetivo. A cidade está para ganhar, até o final do ano, o Centro Integrado de Segurança Pública (CISP), com isto o efetivo deverá dobrar com policiais civis e militares, como ocorreu em outras cidades onde o Centro foi implantado.
Sindpol alerta: metade do efetivo da PC envelheceu
Das 141 delegacias da Polícia Civil de Alagoas, mais de 30 ficam fechadas por falta de agentes, escrivães e delegados. Os 102 municípios de Alagoas precisam de 4 mil policiais civis e tem menos de 1.500 agentes, escrivães, delegados e quase a metade do efetivo já deveria estar aposentada. A Polícia Civil precisa de renovação dos quadros. Quem afirma é o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Ricardo Nazário da Silva. “Nas cidades onde tem delegacia fechada não tem contabilização de crimes, não tem atendimento à população, a Polícia Militar fica restrita às rondas periódicas e fica comprometido também o combate efetivo à criminalidade. Sem a presença do Estado, a impunidade prospera”, acredita o sindicalista.
Nas conversas com os policiais, o diretor-geral da Polícia Civil, delegado Paulo Cerqueira, tenta amenizar a situação. Ele explica as categorias que por conta do efetivo reduzido adota estratégias para garantir o atendimento à população. As delegacias sem policiais são aquelas com pouquíssimas ocorrências e queixas. Os policiais, geralmente, não concordam com as explicações de Cerqueira e cobram melhores condições de trabalho.
“Como a população vai registrar ocorrências se as delegacias ficam fechadas?”, questionou Nazário. “Hoje tem delegacias fechadas em todo o Estado”.
Outro grave problema, segundo o presidente do Sindpol, é o efetivo que precisa ser renovado. “Tem uma lei de 1993 que estipula um efetivo de 4 mil policiais civis para atender a população do nosso Estado. Hoje temos 1.450 agentes e escrivães, quase a metade está para se aposentar. Sem efetivo, as delegacias das cidades pequenas ficam fechadas e os delegados acumulam três, quatro delegacias em cidades diferentes”.
As consequências são terríveis para a população, disse o presidente do Sindpol ao destacar que as investigações demoram a ser concluídas. “Quem se beneficia são os criminosos. Um cidadão que pratica homicídios e escapa do flagrante pode continuar praticando crimes. Geralmente, um homicida quando vem a ser preso mediante investigação policial já cometeu mais de dois assassinatos. Se partir para os crimes relacionados com tráfico de drogas, arrombamento de casas, estupros, assaltos a situação piora. Os números reais não aparecem nas estatísticas oficiais da segurança pública”, avalia.
Orla
A atual gestão política da Segurança Pública prioriza o policiamento ostensivo em detrimento das investigações, disse Ricardo Nazário, ao acrescentar que este tipo de política de segurança gera a sensação de polícia presente. “Neste momento de falta de efetivo, tem 87 policias civis desempenhando atividade de Polícia Militar encarregada de fazer o policiamento ostensivo e preventivo. São os casos dos agentes lotados na Oplit (Operação Litorânea Integrada) e na Asfixia (operação criada em 2009 para ajudar no combate à violência). Parte deste efetivo poderia estar lotado nas delegacias de Homicídio e na de Combate ao Tráfico de Drogas”, sugere o sindicalista, ao ressaltar que não é contra a operacionalidade da Oplit e da Asfixia. “Mas o policiamento ostensivo e preventivo são atribuições da PM. Não tem sentido colocar policias civis fazendo ronda na orla de Maceió”, frisou.
Na orla tem policiamento ostensivo e rondas da Oplit, Asfixia, da PM, da Guarda Municipal e ainda tem o suporte do pessoal do Ronda nos Bairros. Enquanto isso, nas comunidades distantes da capital, região metropolitana e nas cidades pequenas do interior faltam policiais. Com relação à onda de crimes que ocorrem, o sindicalista considerou também que o problema é de gestão das prioridades. “Em bairro e cidades com alto índice de violência se atribui o aumento dos crimes às brigas entre facções criminosas. Se eles sabem que é briga de facções por que não prendem os homicidas? Isto na nossa avaliação é assumir a incompetência; é o mesmo que dizer ‘sei que o crime ocorre ali, mas não consigo chegar'”, avaliou o presidente do Sindpol.
Quando vai para a parte estrutural, a coisa piora. Nas delegacias com superlotação de presos, o efetivo é crítico. O policial trabalha na carceragem na função de agente penitenciário e deixa de cumprir o seu papel. Por isso, as investigações andam lentamente, explicou o líder dos policiais. Como falta efetivo de 2.500 policiais, o agente tem que trabalhar por quatro. “O excesso na carga de trabalha já provocou três mortes de policiais por infarto dentro das delegacias, alguns sofrem de depressão, estresse e alcoolismo”. Ao detalhar a função dos colegas, Nazário explicou que um agente no mesmo dia toma conta de preso, faz investigação, dá andamento aos inquéritos recentes e ainda tem que arrumar tempo para trabalhar como atendente na delegacia, no final do expediente está psicologicamente esgotado.
Concurso
No último contato com as autoridades da cúpula da Segurança Pública, o presidente do Sindpol solicitou a redistribuição de policiais que desenvolvem funções da PM, concurso público, a transferência de presos das delegacias para as casas de custódias, inaugurações das casas de custódias de Santana do Ipanema, de Penedo e a recuperações de delegacias com sérios problemas de infraestrutura. “O que a gente quer é condições de trabalho. Se nada for feito neste sentido a Polícia Civil vai acabar e isto a quem interessa?”, questionar Ricardo Nazário.
Se a Polícia Civil for extinta acaba o processo de investigação para elaboração do inquérito a ser encaminhada a justiça. O inquérito é uma peça informativa fundamental para o Poder Judiciário formalizar o processo, explicou o diretor de imprensa e comunicação do Sindpol, José Edeilton Gomes. “Hoje, apenas algumas equipes de delegacias especializadas como a de Homicídios, Roubos e Furtos, de Tráfico tem efetivo razoável. Infelizmente as delegacias de bairros estão prejudicadas por falta de efetivo”.
O pessoal das especializadas também se queixa do efetivo reduzido. Tanto que para lograr êxito nas operações, as equipes precisam pedir apoio do Tigre (a força de elite da Polícia Civil) e da Polícia Militar.
“A PM também enfrenta problemas semelhantes”, dizem militares que preferem não se identificar e confirma o sindicalista Edeilton. “Para a gente ter um policiamento ostensivo de qualidade em Alagoas seria necessário tem uma tropa com 15 mil PMs. O efetivo atual tem menos de oito mil. Como ocorre na Polícia Civil, os militares também estão adoecendo por excesso na jornada de trabalho”.
A maioria dos policiais civis e militares antigos tem férias vencidas. Alguns trabalham há 15 anos sem tirar férias. “O policial precisa de férias para sair desta rotina estressante. Por isso, a gente diz que a maioria dos policiais, com mais de dez anos de profissão, tem algum tipo de doença como alcoolismo, distúrbios psicológicos, psiquiátricos, hipertensão, entre outras”, afirmou o diretor do Sindpol, que também é psicólogo. O piso do policial Civil hoje está em torno de R$ 3,2 mil e no fim de carreira chega a R$ 7 mil.
O outro problema é que a maioria dos policiais civis com problemas de saúde prefere negar que está doente para não perder o porte de arma, admite a direção do Sindpol.
Delegado geral pede concurso
A Direção-Geral da Polícia Civil de Alagoas reconhece que delegacias do interior estão fechadas e justifica o problema alegando falta de efetivo para mantê-las abertas. As delegacias fechadas são aquelas de municípios com baixas ocorrências criminais e de queixas. O delegado-geral, Paulo Cerqueira, por meio de sua assessoria de comunicação, revelou que já foi encaminhado às Secretarias de Segurança e de Planejamento, Gestão e Patrimônio, o pleito para a realização de concursos públicos para preenchimento de cargos de delegados, escrivães e agentes.
A Secretaria do Planejamento está estudando a definição de vagas e o impacto na folha, que hoje está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, em torno de R$ 300 milhões/mês. A data do concurso ainda não foi definida.
Com relação às férias vencidas de agentes e delegados, Paulo Cerqueira reconheceu também que o problema existe. Porém, minimiza as reclamações ao alegar que a questão é muito relativa e varia de caso para caso. Mas, de um modo geral, admite que o problema está relacionado a opção de algumas equipes de policiais e a falta de efetivo. “A Polícia Civil reconhece que tem servidores com férias vencidas. Mas cada caso é um caso. De qualquer forma não houve determinação para que o policial não tirasse férias: teve gente que pediu para tirar, mas a demanda de trabalho deixou alguns sem férias”, disse o secretário através da assessoria.
Na alta cúpula da Polícia Civil também tem muitos profissionais na mesma situação. Tem algumas funções que não podem parar e não tem substituto. Um ponto considerado positivo para a direção da Polícia Civil é a consciência do profissional que permanece no posto, apesar de muitos estarem sem férias há mais de cinco anos.
Sem resposta
Na última quarta- feira, a equipe de reportagem da Gazeta encaminhou treze perguntas à Secretaria de Segurança Pública a respeito das reclamações dos policiais e dos contribuintes das cidades pequenas. As perguntas foram as seguintes: Secretário Lima Júnior: nos últimos quatro anos como está o efetivo da PM?; Comenta-se que a PM de Alagoas precisa de 4 mil homens e hoje tem menos de oito mil. É verdade esta afirmação? Como superar a carência?; Na Polícia Civil tem 1.400 agentes quando precisaria de 4 mil. A Polícia Civil vai acabar?; Segundo Policiais, mais de 30 delegacias estão praticamente fechadas por falta de efetivo da Polícia Civil. Como ficam os registros de ocorrências nos municípios com delegacias fechadas?; Os policiais reclamam também de sobrecarga de trabalho. Alguns têm problemas com drogas, alcoolismo e outras doenças ocupacionais. Como este assunto é tratado pela Segurança Pública?; Existem cursos de reciclagem para os profissionais da Polícia Judiciária?; Por que delegacias de bairros da grande Maceió ficam fechadas no período noturno?; Hoje é possível comemorar a redução da violência em Alagoas? Quantos homicídios em 2017 e 2018? Ataques a ônibus? Roubos em estabelecimentos?; O programa de vídeo- monitoramento como funciona?; O programa disque denuncia 181 tem apresentado resultado satisfatório?; Quantos em drogas já foram apreendidas em 2017 e 2018?; O que muda no planejamento policial no período de disputa eleitoral? E o que está previsto para a proteção dos eleitores?.
Até o fechamento desta edição não obtivemos respostas (Matéria publicada em 12/08/2018 – Gazetaweb – Foto: Gilberto Farias)