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Na defesa da sua tese de doutorado, policial civil Deyvid Braga Ferreira analisa discurso do governo Bolsonaro sobre Direitos Humanos

Por Imprensa (terça-feira, 24/09/2024)
Atualizado em 25 de setembro de 2024

O policial civil, agora Doutor em Linguística, Deyvid Braga Ferreira teve sua tese aprovada pelo Programa de Pós Graduação em Linguística e Literatura da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), no dia 3 de setembro, na linha de pesquisa: Discursos, Sujeito e História e Ideologia.

Em sua tese, ele analisou o discurso do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, com a seguinte postagem na rede social X (antigo Twitter): “Direitos Humanos: o esterco da vagabundagem” e outros discursos (postagens) similares; buscando analisar se tais discursos poderiam interferir ou não no labor diário dos profissionais das forças estaduais de Segurança Pública, envolvendo policiais civis, policiais militares e corpo de bombeiro militar.

“A princípio, trabalhei com a hipótese de que tal discurso pudesse aumentar a letalidade policial, visto que poderia incutir em seu imaginário, um comando para “recrudescer” nas atuações policiais e, por essa via, prestar um mau serviço à sociedade. Entretanto, tanto a análise da postagem, quanto os dados colhidos em relação aos homicídios nos Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não indicaram que tal suposição tenha ocorrido. Ou seja, se analisarmos a quantidade total de homicídios, tal dado manteve-se estável, além de haver um declínio em comparação com os períodos anteriores”, afirmou Deyvid Braga.

Foram analisados os dados no período de 2012 a 2022, com ênfase entre 2018 – 2022, e não houve variação expressiva de aumento da violência como um todo e também policial. Para ele, isso demonstra que os profissionais da segurança pública possuem uma consciência mais crítica. “O acesso à informação, os cursos on-line e as academias de polícia como um todo, além do engajamento da sociedade civil organizada contribuem para uma maior conscientização dentro da nossa sociedade da informação, melhorando o nível de atuação dos policiais”, explicou. Como exemplo, Deyvid cita o curso on-line de atendimento de mulheres vítimas de violência (SSP), os cursos da rede EAD/ SENASP, que permitem ao policial realizar o treinamento em qualquer lugar. “As tecnologias ajudam muito nesse sentido”, acrescentou.

Deyvid Braga explicou que sua Tese se filia na linha de pesquisas em Discurso: Sujeito, História e Ideologia, buscando através do referencial teórico da Análise de Discurso fundada por Michel Pêcheux o suporte teórico para desenvolver suas pesquisas. “Como disciplina de entremeio, a Análise de Discurso surge para nos dizer que a língua não é opaca, mas carregada de sentidos produzidos entre os falantes, que o produzem e reproduzem de um lugar social, os quais ocupam, perpassados pela ideologia. Com isso, é possível pensar e analisar as possíveis formas com as quais as estruturas de poder irão manifestar-se, influindo na forma como a realidade poderá ser vista e interpretada. É por isso que a mesma frase possui significações diferentes, para diferentes pessoas que a analisarem, pois todas farão a partir das relações de poder e da ideologia. Serão esses outros discursos e essas outras possibilidades, com as quais a análise do discurso busca dialogar.”, esclareceu.

A análise do discurso, de acordo com Deyvid Braga, busca compreender os sentidos, não desvelar. Ele utilizou o exemplo do discurso sobre os “Direitos Humanos” como “esterco da vagabundagem” para ilustrar as diferentes interpretações possíveis, dependendo da filiação ideológica do locutor. “Se pensarmos sob uma perspectiva marxista, dentro da sociedade estratificada em classes sociais, onde o modo de produção é capitalista, o vagabundo seria alguém que não tem condição de consumir, porque em uma sociedade capitalista quem tem valor é quem consome”, explicou.

O policial civil mencionou outros autores relevantes para compreensão, como Gnerre ao falar que “o poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante. Uma variedade linguística vale o que valem na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais”; e de Voloshinov, citando que “na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida”.

Braga destaca que “temos posições teóricas que nos apresentam um sentido outro: de que não somos donos do nosso dizer, que a ideologia, ou seja, como entendemos e nos portamos no mundo, nos faz filiar a algum discurso, porque a pessoa acredita que aquilo vai estar certo ou não. São posições teóricas que colocam para refletir”, esclarece.

Deyvid Braga organizou sua tese em três seções. Na primeira, ele explica a análise do discurso, na segunda, analisa o Estado, o Direito e o que seria os Direitos Humanos na perspectiva neoliberal e na teoria marxista; e na terceira, faz a análise de postagens de Jair Bolsonaro relacionadas à temática.

Para concluir a tese, ele conta que conseguiu cursar disciplinas na UFAL, UNICAMP e UNESP.  O recém doutor, também fez Mestrado em Educação na Ufal. “Para mim, estudar é um escape nessa profissão tão estressante. A gente lida com problemas, que temos que entender e atender da melhor forma possível, diariamente. Então, quanto mais capacitado, melhor, não é isso?”, questionou.

Para quem não lembra, Deyvid Braga é policial civil da Turma de 2002. Na época, conseguiu, com apoio do Sindpol e da Cobrapol, a liberação da armas de calibre restrito para posse e aquisição de todos os policiais civis do Brasil junto ao Exército Brasileiro.

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