Carregando
(82) 3221.7608 | 3336.6427

Número de brasileiros assassinados nas ruas cresce 22% em dez anos

Por Imprensa (segunda-feira, 22/08/2011)
Atualizado em 22 de agosto de 2011

O percentual de pessoas assassinadas em vias públicas no Brasil cresceu 22% entre 1999 e 2009. No mesmo período, o índice de vítimas que chegaram a receber algum tipo de atendimento em hospitais e unidades de saúde caiu 12,6%.


Em média, de cada 10 brasileiros assassinados por arma de fogo em 2009, apenas três conseguiram chegar a com vida a um hospital para receber o socorro. Os números contrastam com a ampliação da oferta de serviços médicos-hospitalares no mesmo período.


Segundo dados do sistema Datasus, do Ministério da Saúde, das 26.902 mortes causadas por agressão de arma de fogo em 1999, 10.858 (ou 40,3% do total) ocorreram em via pública. Em 2009, das 36.624 mortes registradas, 18.009 (49,1% do total) ocorreram em ruas.


Por outro lado, em 1999, 8.881 mortes (33%) aconteceram em hospitais ou outros tipos de unidades de saúde. Dez anos depois, esse número passou para 10.567 (28,8%).


As mortes nas ruas contrastam com um detalhe considerado importante pelas autoridades em saúde ouvidas pelo UOL Notícias. Em 2003, houve a implantação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que reduziu o tempo-resposta dos atendimentos nas ruas, especialmente dos crimes violentos.


Segundo o Ministério da Saúde, o serviço atende hoje a uma população de 112 milhões de pessoas, em 1.502 municípios -entre eles os maiores e mais violentos.


“Além disso, o avanço da medicina contribui naturalmente para que mais vidas sejam salvas dentro dos hospitais, não só em casos de tiros, mas em todos os problemas de saúde”, afirma o médico José Reinaldo Júnior.


O quê então teria causado um número maior de mortes antes da vítima receber socorro? Para especialistas em dados de segurança pública, o aumento do número de óbitos nas ruas tem ligação direta com o aumento do poder de fogo das armas no país, associada à facilidade em adquirir um revólver ou pistola ilegalmente.


No levantamento “Impacto da arma de fogo na saúde da população no Brasil”, a mestre em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, Luciana Phebo, questiona se há rapidez no atendimento nos hospitais de emergência do país, mas aponta o maior poder de fogo das armas como fator contribuinte para o maior número de mortes por arma de fogo antes do socorro.


“A mortalidade em hospitais pode ser considerada como indicador de acesso e a dos que chegam aos hospitais e morrem pode ser um indicador negativo da rapidez e da qualidade do atendimento. Apesar de não termos informações padronizadas sobre o atendimento pré-hospitalar, sabe-se que hoje em dia, devido à letalidade crescente das armas de fogo, as mortes estão ocorrendo cada vez mais antes de se chegar aos hospitais”, aponta.


Ainda segundo o estudo, a mortalidade nos hospitais também mostram um maior poder de fogo das armas. “De cada quatro feridos nos casos de agressões por arma de fogo que chegaram a ser internados, três morreram”.


A violência das balas também aumenta o tempo médio de internação por lesão por arma de fogo, que é de sete dias, enquanto que por acidente de trânsito foi de seis dias, o que aumenta o custo médio em 16,45%.


Letalidade de armas no país superam à de uma guerra
Responsável pelo estudo Mapa da Violência, o diretor do Instituto Sangari, Julio Jacobo, disse ao UOL Notícias que as armas de fogo do Brasil possuem uma das maiores letalidades do mundo, com índices piores que os registrados em guerras.


“Aqui nós temos uma média de cerca de 1,5 morte para cada internação hospitalar por arma de fogo. Em guerras, esse número é de um morto para cada 3, 4 ou 5 internamentos. Ao contrário dos países da Europa, onde os índices de mortes por arma de fogo são pequenos, no país ultrapassa os 70%, o que mostra que existe mais premeditação e menos passionalidade”, afirmou o pesquisador.


Questionados sobre os dados do Datasus, Jacobo disse que acredita que eles ainda trazem uma subnotificação de mortes violentas nos hospitais. “O que acontece é que muitos dos registros de armas de fogo se perdem dentro dos hospitais. Ele dá entrada como vítima de arma de fogo, mas depois ele acaba sendo notificado Datasus com o tipo de contusão, ou seja, se foi ferimento no pulmão, um trauma, um problema neurológico. Esse quadro começou a mudar há de três anos para cá, mas ainda não temos estudos feitos que apontem um número real”, disse.


Um especialista em medicina legal apontou que, especialmente no Nordeste, é comum ver execuções com muitos tiros, o que reduz significativamente a chance da vítima chegar com vida a um hospital.


“Já vi casos de pessoas levarem 22 tiros. Ou seja, o indivíduo vai para matar e não dá mais chance à vítima. As balas mais comuns que vemos nas necropsias aqui no Nordeste são a do revólver 38 e das pistolas 380 e 765. Mas o poder de explosão da 765, por exemplo, é muito maior que a de um 38. Ela é comum, e causa um dano a órgãos e tecidos muito grande. Isso, claro, causa uma maior letalidade”, explicou o legista do IML (Instituto Médico Legal) de Pernambuco, que pediu para não ser identificado.


Já os professores Claudio Beato e Luís Felipe Zilli, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, citam no estudo “A Estruturação de Atividades Criminosas” outro ponto que contribui para o aumento da mortalidade: o acesso fácil às armas de fogo e suas balas.


“No início dos anos oitenta, pouco mais de 40% dos homicídios eram praticados por arma de fogo. Hoje são mais de 70%. Pode-se atribuir às armas o crescimento dos homicídios desde meados dos anos 80 até 2004. Hoje é cada vez mais barato e fácil ter acesso a elas no mercado ilegal. Com pouco mais 150 reais é possível obter um revólver”, dizem.


Uol Notícias

Compartilhe essa notícia

Comentários

Faça agora seu Recadastramento
e fique informado

© Copyright 2001 - 2024 | SINDICATO DOS POLICIAIS CIVIS DE ALAGOAS