Por Imprensa (domingo, 3/04/2011)
Atualizado em 3 de abril de 2011
Às vésperas do início oficial do Carnaval de Salvador, um confronto entre policiais civis baianos provoca tensão na Polícia Civil, que ameaça paralisar as atividades durante a folia. Na noite da quarta-feira (2), agentes de duas delegacias – a de Furtos e Roubos e a de Tóxicos e Entorpecentes – entraram em confronto, trocaram tiros em uma área nobre da cidade, a avenida Paulo 6º, no bairro da Pituba, e um investigador morreu. O policial, identificado como Valmir Borges Gomes, 54, era lotado na Delegacia de Furtos e Roubos.
Após reunião de agentes nesta manhã, o Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc-BA), informou que a categoria decidiu paralisar as atividades até que os responsáveis pelo assassinato do agente civil sejam presos. A forma da paralisação ainda será resolvida nesta tarde.
Segundo o vice-presidente do Sindpoc-BA, Marco de Oliveira Maurício, o clima é de revolta nas delegacias e os investigadores estariam sem “condições psicológicas” para prestar um serviço de qualidade. Alguns teriam faltado ao trabalho, hoje.
Já o delegado-chefe da corporação, Hélio Jorge informou que ainda não foi notificado sobre qualquer paralisação dos agentes e que o trabalho segue normal nas delegacias, assim como o planejamento da corporação para garantir a segurança no Carnaval. “Nossa escala de serviço e horário extra segue normal. Sabemos que a nossa responsabilidade é grande e a Polícia Civil vai desempenhar o seu papel”, firmou.
Indagado sobre a possibilidade de o policial assassinado ser reincidente em denúncias de corrupção, o delegado-chefe respondeu que a informação está sendo levantada nos arquivos da PC.
Segundo Marco de Oliveira Maurício, um jovem teria sido abordado pelo agente e outros dois homens, que também seriam policiais, porém não foram identificados, ao comprar lança-perfume para usar durante a festa. Os policiais teriam tentado extorquir o jovem para não prendê-lo, exigindo o pagamento de uma quantia que ele estima em R$ 10 mil. Nervoso, o rapaz entrou em contato com os pais, que recorreram à Corregedoria da Polícia Civil.
Conforme Marcos Maurício, uma equipe com 18 investigadores e um delegado da DTE foi encaminhada ao local combinado para o pagamento da propina. Versões ainda não confirmadas dão conta de que ao perceberem a movimentação de policiais, Valmir e os outros dois homens teriam iniciado o tiroteio, encontrando revide. Carros e fachadas de prédios foram atingidos. Valmir foi baleado em diversas partes do corpo. Ele ainda foi encaminhado ao Hospital Roberto Santos, mas chegou morto ao local. Os outros dois homens conseguiram fugir.
“Não temos certeza se foram dois ou um outro policial que fugiu. Na verdade, ainda tem muita coisa a ser esclarecida nesse crime”, diz o sindicalista.
O vice-presidente do Sindipoc questiona a versão apresentada pela DTE e diz que o policial morto foi baleado quatro vezes pelas costas, estando com as mãos no volante da viatura da DFR. “Não temos como saber o que realmente aconteceu, o policial está morto”, ironizou.
Marcos Maurício diz que a investigação mal sucedida é reflexo do despreparo da polícia baiana, que “está sucateada e não recebe investimentos em treinamento e qualificação dos profissionais”. “O resultado é esse. E olhe que a equipe estava acompanhada por um delegado”, critica.
Após o ocorrido houve mais tensão na porta da Corregedoria da Polícia Civil, no bairro da Chapada do Rio Vermelho, onde se reuniram agentes de várias delegacias, indignados com o crime. Os ânimos somente arrefeceram após a decisão de suspensão das atividades na corporação.
Descontentes com a remuneração paga pelo Estado e o que chamam de más condições de trabalho, os policiais civis da Bahia já vinham sinalizando com a vontade de suspender as atividades. Entretanto, em reunião na manhã de ontem, a categoria tinha decidido esperar mais um mês por uma posição oficial quanto às suas reivindicações.
“Se não fôssemos chamados para negociar direitos adquiridos e horários extenuantes de trabalho, a partir do dia 2 de abril iríamos parar. Mas, depois do ocorrido, acho que agora vamos parar no Carnaval”, informou Marcos Maurício.
Em nota a Corregedoria da Polícia Civil informou nesta manhã que está apurando as circunstâncias do confronto entre os policiais civis. Segundo a nota, o jovem que estaria sendo extorquido foi levado à sede da Corregedoria ontem à noite e prestou depoimento. Os integrantes das equipes que participaram da operação também já foram ouvidos. Os carros envolvidos na troca de tiros estão sendo periciados e todas as armas foram apreendidas. Os outros dois homens que fugiram estão sendo procurados. Além dos agentes da DTE, os policiais que foram checar a denúncia contavam com o apoio da Coordenadoria de Operações Especiais (COE).