Por Imprensa (sexta-feira, 5/09/2014)
Atualizado em 5 de setembro de 2014
Relatório sobre violência contra crianças denuncia ainda milhares de homicídios, com o Brasil sendo o segundo país com mais mortes
Uma em cada dez meninas com menos de 20 anos já foi vítima de violência sexual, segundo um relatório divulgado nesta sexta-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Considerado a maior compilação de dados feita até hoje sobre violência contra crianças, o documento estima que cerca de 120 milhões de meninas no mundo tenham sido sujeitadas a atos sexuais forçados somente em 2012.
Ao mesmo tempo, uma em cada três mulheres casadas com entre 15 e 19 anos, cerca de 84 milhões, foi vítima de violência emocional, física ou sexual por parte dos próprios maridos. Cerca de metade das jovens acha justificável “que um marido bata na mulher em determinadas circunstâncias”, segundo o relatório da Unicef.
Intitulado Hidden in plain sight (Escondido à vista de todos, em tradução livre), o documento de mais de 200 páginas reúne dados de 190 países. Crianças do mundo todo são cotidianamente expostas à violência, independentemente de fatores como cultura, religião, etnia ou classe social, afirma a Unicef. Além de atos forçados, as formas de violência reportadas incluem bullying, métodos de disciplina abusivos e assassinato.
Milhares de homicídios
De acordo com o relatório, um quinto das vítimas de homicídio no mundo tem menos de 20 anos. Só em 2012, 95 mil crianças e adolescentes foram mortos. Em países como o Brasil, onde 11 mil crianças foram assassinadas em 2012, Nigéria e Venezuela, o homicídio é “a principal causa de morte em indivíduos do sexo masculino dos 10 aos 19 anos”.
No Brasil, o número de óbitos nessa faixa etária só é menor do que na Nigéria (13 mil), onde o grupo terrorista Boko Haram sequestrou mais de 200 meninas em abril deste ano. Entre os países da Europa Ocidental e da América do Norte, os Estados Unidos têm a maior taxa de homicídio na infância.
– São fatos inquietantes. Nenhum governo, pai ou mãe gostaria de vê-los”, disse o diretor executivo da Unicef, Anthony Lake, num comunicado enviado à imprensa. “(A violência) ocorre em locais onde as crianças deveriam estar seguras, em suas casas, escolas e comunidades. Cada vez mais, acontece através da Internet e é perpetuada por membros da família, professores, vizinhos, estranhos e outras crianças.”
Bullying e castigos físicos
O relatório diz ainda que mais de um em cada três estudantes com idades entre os 13 e os 15 anos em todo o mundo são regularmente vítimas de bullying na escola. Na Europa e na América do Norte, quase um terço dos alunos de 11 a 15 anos relata ter conduzido atos de bullying.
No que diz respeito à vida familiar, o estudo revela que quase um quinto das crianças é submetido a “castigos físicos severos” em 58 dos países analisados, o que se explica pelo fato de três em cada dez adultos em todo o mundo acreditarem que “o castigo físico é necessário para educar corretamente uma criança”.
A Unicef avalia que “muitas vítimas são jovens ou vulneráveis demais para denunciarem um abuso”. “Um número elevadíssimo de crianças não recebe proteção adequada contra a violência”, denuncia o fundo da ONU, recordando que “a maioria da violência contra crianças é praticada pelas pessoas que têm a responsabilidade de cuidar delas”.
Apesar de a violência contra crianças ser “generalizada”, a Unicef acrescenta que “não é inevitável”, apresentando algumas estratégias para prevenir e eliminar o problema. Elas incluem reforçar os sistemas judiciários, penais e sociais.
Crianças violentadas “têm maior probabilidade” de serem afetadas por dificuldades de aprendizagem, desemprego, pobreza, depressão e repetição do padrão de violência, conclui o relatório.
Correio do Brasil