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Crise econômica foi uma bênção para o crime organizado, diz autor do livro "Gomorra"

Por Imprensa (terça-feira, 28/08/2012)
Atualizado em 28 de agosto de 2012

Para Roberto Saviano, os recentes escândalos financeiros mostraram suas ligações com o crime organizado

O escritor e jornalista italiano Roberto Saviano, autor do livro-reportagem Gomorra, afirma qua a atual crise global foi uma “benção para as organizações criminosas”.

Em artigo ao jornal The New York Times , veiculado na edição deste domingo (26/08), Saviano afirma que a crise econômica foi determinada também pelo capital ilegal. “Uma série recente de escândalos financeiros revelaram a existência de estreitas conexões entre os maiores institutos bancários mundiais e esse mundo aparentemente subterrâneo feito de criminosos, traficantes de drogas e de armas”.

“Os maiores bancos norte-americanos nos últimos anos foram cada vez com maior frequência avalistas ocultos dos cartéis sul-americanos, lavando dinheiro proveniente do narcotráfico, enquanto na outra parte do globo as organizações comiam literalmente a Grécia e a Espanha”, afirma o autor de “Gamorra”.

Para o jornalista, esse tipo de relação entre bancos e gângsters está longe de ser um fato novo, “mas o que impressiona é que eles alcançaram os níveis mais altos da finança global”.

Ele lembra o exemplo da companhia norte-americana Wachovia, prestadora de uma série de serviços financeiros e que, em 2008, foi adquirida pela Wells Fargo. Em 2010, a empresa admitiu ter ajudado a financiar a guerra do narcotráfico mexicano por não ter identificado a origem ilícita das transações que envolviam os grupos crminosos. A companhia aceitou pagar 160 milhões de dólares em multas por tolerar o esquema de lavagem de dinheiro entre os anos de 2004 a 2007.

No artigo, Saviano também lembrou condenações ou irregularidades admitidas por bancos como HSBC, ABN Amro, Crédit Suisse, Lloyds e ING. Segundo o jornalista, muitas das transações ilícitas precederam a crise de 2008, mas a contínua ebulição no sistema bancário criou uma abertura para os grupos organizados enriquecerem e se fortalecerem.

“Em 2009, o economista italiano Antonio Maria Costa, então no comando da comissão contra drogras e crime organizado das Nações Unidas, disse ao jornal britânico The Observer que, em muitas instâncias, o dinheiro das drogas era o único capital de investimento líquido disponível para alguns bancos no auge da crise. ‘Empréstimos interbancários foram financiados por dinheiro que, originalmente, eram provenientes das drogas e outras atividades ilegais’, ele dizia. As Nações Unidas estimam que 1,6 trilhão de dólares foram lavados em todo o mundo em 2009, dos quais 580 bilhões estavam relacionados ao tráfico de drogas e outras formas de crime organizado” lembra Saviano em outro trecho do artigo.

“Um estudo concluído em 2011 pelos economistas colombianos Alejandro Gaviria e Daniel Mejía concluiu que a grande maioria dos lucros do tráfico de drogas no país sul-americano foi obtida por grupos criminosos em países ricos e com os lucros lavados nos bancos em centros financeiros do porte de Nova York e Londres. Pelo estudo, eles descobriram que o sigilo bancário e as leis de privacidade dos países ocidentais muitas vezes impedem a transparência e facilitam que os criminosos consigam lavar dinheiro”, diz o escritor.

O escritor também expressou que espera que os Estados Unidos abram um debate sobre este tema, que “possa se converter em prioridade também na Itália, país que está em maior risco que todos”.

Saviano, de 32 anos, publicou o livro que lhe trouxe reconhecimento em 2006, revelando todos os níveis da Camorra, a máfia napolitana. Desde então, ele passou a ser ameaçado de morte pela máfia e vive com escolta para sua proteção.

Opera Mundi

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